domingo, dezembro 07, 2008

A MINHA DOR



A minha Dor é um convento ideal

Cheio de claustros, sombras, arcarias,

Aonde a pedra em convulsões sombrias

Tem linhas dum requinte escultural.


Os sinos têm dobres de agonias

Ao gemer, comovidos, o seu mal…

E todos têm sons de funeral

Ao bater horas, no correr dos dias…


A minha Dor é um convento.

Há líriosDum roxo macerado de martírios,

Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,

Noites e dias rezo e grito e choro,

E ninguém ouve… ninguém vê… ninguém…


Florbela Espanca - O Livro das Mágoas